quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O 2º ATO


Não dá pra dizer que O Teatro Mágico é meramente uma banda, suas apresentações que misturam dança, poesia, música, dramaturgia e números circenses deixam claro que o termo não é apropriado para definir esse grupo artístico de grande influência no cenário cultural independente. A trupe (como eles se autodenominam) é liderada pelo ator, cantor e compositor Fernando Anitelli que revela ter idealizado o projeto a partir de sua própria vivência nos saraus paulistanos. Com sua sonoridade peculiar, o Teatro Mágico faz, hoje, uma MPB rara e de muito bom gosto. Aliás, a sigla que nomeia o gênero musical também serve para intitular um outro projeto do qual são precursores: é o  Música Para Baixar - um trabalho de disponibilização de música gratuita na internet. 

Para nós, a relevância das composições do 2º Ato, o segundo álbum do grupo, é o que justifica figurá-lo por aqui. Por exemplo, a faixa "Pena" problematiza a questão da mercantilização da arte em nossos dias. Já a "Cidadão de Papelão" aborda o social, a dor de quem vive à margem de uma sociedade, hipocritamente cheia de candura. Em "Xanéu nº5" temos uma crítica à programação televisiva; e sua capacidade de anestesiar pessoas, que, sem saber, perdem suas vidas sentadas no sofá. "O Mérito e o Monstro" traz o corre-corre capitalista a que estamos condicionados; muitas vezes o desprazer de um trabalho massante e sem sentido, que solapa o viver. Uma poesia riquíssima é declamada em "Insetos Interiores", que parece retratar a maldade humana, ou sentimentos torpes, ou o pessimismo latentes em nosso ego. E isso é só uma amostra do cárater crítico e reflexivo do trabalho em questão.