quarta-feira, 12 de setembro de 2012

CARTA A MEU PAI - Kafka



Demorou muito pra eu encontrar em Franz Kafka aquele maravilhamento característico da arte do bem escrever. E foi numa carta que ele se dirigia ao próprio pai. Ali eu percebi todo o seu gênio de artista digno de aclamação na Literatura Mundial. Ainda que, ao que tudo indica, não se trate de uma obra de ficção. Mas uma carta real com destinatário certo (e embora, eu, particularmente, não acredite que seu pai a tenha lido).
O que ele acabou criando foi algo muito maior.. Uma espécie de tratado de psicologia, com a análise minuciosa dos eventos que se sucederam em sua relação com o pai, mostrando ao mundo como uma educação tirânica e opressora pode ter ressonâncias absurdas durante toda uma vida, ao ponto de moldar o caráter e a personalidade do indivíduo.
Fiquei muito tocado, especialmente porque me identifiquei em diversos momentos.. Eu, que (só) tive a presença (amedrontadora) do meu pai até aproximadamente os meus 9 anos.. A leitura me fez buscar reminiscências de uma relação que não se construiu, e contudo, o que houve foi duramente cruel e perturbador... Na verdade, penso que qualquer um pode se ver assim: refletido em Kafka. Talvez não com as mesmas facetas do relacionamento pai/filho, mas no mínimo, análogas; e com consequências e descaminhos distintos - e que não são nem bem nem mal em si mesmos (mas isso não posso explicar agora). Porque a genialidade encontrada no texto provoca isto: ela te suscita a uma análise retrospectiva de suas experiências, primeiro como filho, depois como adulto, e sujeito independente; mas, possivelmente nunca livre da influência paterna, seja por uma presença esmagadora (como a que teve o autor), seja pela ausência desse singular referencial.. 
Quanto ao meu caso, bem... acho melhor ler o relato de Kafka, pois que muitíssimo me ultrapassa em maestria de descrição e argumentação, e em nível de catarse, dor e angústia provocados.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Cultura da Participação


Como a internet proporcionou tamanha transformação no modo como utilizamos nosso tempo livre? A resposta pode estar em como o aparato tecnológico atual possibilita que, com baixo custo e risco, apliquemos aquilo que sempre tivemos: vontade de usar nossos talentos individuais para criarmos juntos coisas novas. Trata-se de uma revolução no modo como lidamos com a produção cultural. De, mais ou menos, 20 anos pra cá, a forma como a maioria de nós obtemos informação não é mais a mesma.

O autor vai apontar as impressionantes ferramentas criadas de forma compartilhada, e discutir os seus usos; como por exemplo do portal USHAHIDI, por meio do qual, quenianos puderam burlar a censura do governo local e divulgar atos de violência, em tempo real. O livro explica como explorar as oportunidades criadas pela tecnologia, e como fazer de seus recursos algo útil para melhorar o mundo.

Já pensou como poderíamos utilizar o espaço das redes sociais para além do mero entretenimento, manifestando opiniões críticas, criando intervenções sociais, políticas, culturais? Dessa forma poder-se-ia tratar do tempo livre como um bem social...

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

PERGUNTAR COM DISSONÂNCIA..



É sabido que há muitas formas de se combinar a Arte. Uma das combinações mais bem-sucedidas na cultura do  mundo contemporâneo é entre a Literatura e o Cinema, haja vista, inúmeras obras transformadas em filme.  Às vezes o lançamento ocorre quase que simultâneamente em ambas as modalidades, não é?! Mas hoje quero falar de uma interface artística que,  até então, não tinha visto (ou se tinha, faltava-lhe a Excelência e a Beleza capazes de enternecer a este mortal..rs). A Fabulosa Banda do Curinga conseguiu esse feito, ao transportar toda a atmosfera de uma obra literária para dentro do seu disco de estreia. Trata-se do título O Dia do Curinga (de Jostein Gaarder). Com maestria, os músicos reproduzem, em algumas de suas composições a intrigante aventura narrada nesse livro - o segundo melhor romance escrito pelo filósofo norueguês (o primeiro, na minha opinião, é sem dúvida, O Mundo de Sofia). 

Transcrevo abaixo um trecho da primeira faixa do álbum. A quem interessar o site oficial da banda é: http://www.fabulosabandadocuringa.mus.br/site/

"...Vou procurando as saídas
De entradas encontradas mal contadas

E faz muito tempo que navego
E escorrego na certeza de sermos só mais um aqui

Vou descobrir os sabores escondidos
entre flores e cores
Vou descobrir as canções encantadas
por sorrisos contraídos

Quem quer entender o destino
Tem que sobreviver...
Quem quer entender a vida
Tem que se perguntar e a-notar"

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A ÁRVORE DA VIDA (2011)


O fio condutor da trama desta fenomenal obra cinematográfica é um tema de cunho metafísico. A personagem de Sean Penn, já com mais de 35 anos, mergulha numa convulsão de questionamentos sobre a morte de seu irmão, quando este ainda era uma criança - o que acaba por abrir um precedente óbvio: as dúvidas e inquietações sobre a própria vida. Dessas rememorações (que só nos damos conta depois de algum tempo de filme) emergem, no cotidiano deste homem, as perguntas existenciais. Então, na tentativa de respondê-las, segue-se a narrativa, quase que muda, do desenrolar fenomenológico, o princípio de tudo, desde o surgimento do universo, tal como nós minimamente o conhecemos, à origem da vida. Terminada essa parte, acompanhamos o núcleo familiar religioso que protagoniza a história, e todo o processo de criação e educação dos filhos, até o ápice da divisão de pensamentos provocados pelo mais súbito, enigmático e pungente de todos os eventos da vida humana: a morte. 

domingo, 31 de julho de 2011

Everwood


Everwood é um seriado tocante e dramático, com situações que certamente apontam para o pensar filosoficamente. Como no capítulo em que a garota Kate opta por abortar sua gravidez indesejada, mas seu médico Andy recusa em realizar o procedimento, mesmo declarando não ter princípios morais que o influencie. Ele diz: "Com 62 dias de gestação, o feto já adquire perfeita forma humana, mas não é uma pessoa, nem pode viver fora do útero, contudo, tem a perfeita probabilidade de se  tornar uma pessoa. Eu não sei quando a vida começa, mas sei que o aborto extingue a possibilidade dela começar...". A cena nos faz refletir sobre a dificuldade de se posicionar frente a discussão da legalidade e/ou humanidade da prática abortiva tão comum em nossos dias. Em outra cena, a personagem Delia conversa com seu pai sobre pudor. Este, fica encabulado por a filha, de apenas 9 anos, ter olhado uma revista do gênero pornográfico, e principalmente, por ela ter levado isso a público. Ele explica que "as pessoas gostam de olhar essas coisas mas tem vergonha de serem vistas fazendo isso", ao que a menina retruca (em outras palavras): se todos querem ver, todos gostam, e todos sabem que todos veem escondidos, por que as pessoas se repreendem quanto a isso? Deveriam poder fazê-lo abertamente ué!". Não sabendo exatamente a razão desse estranho comportamento social, o adulto argumenta que é por causa da cultura: "fomos condicionados a responder dessa forma a determinados estímulos...". E nós, aqui do outro lado, logo nos pomos a refletir: como se deu o início desse processo? Será que o pudor é algo natural do ser humano?

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Recurso Educativo: o vídeo A História das Coisas


Reflexão e análise filosófico-educativa do vídeo A História da Coisas, pelo Prof. Dr. Marcos Francisco Martins (Filosofia e História da Educação pela Unicamp), - atual professor adjunto nos programas de pós-graduação da Ufscar.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Ótica de Escher


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Os trabalhos do holandês, Maurits Cornelis Escher, impressionam pela desconstrução da ordem visual do mundo - uma intenção deliberada de derrubar as noções mais primevas sobre a realidade. Diante de suas obras, somos instigados a duvidar do que vemos, e isso é, tal como a tarefa da Filosofia, uma busca pela profundidade das coisas. As obras do artista parecem questionar o mundo visível. (A propósito, Escher e Descartes tiveram algo em comum: ambos souberam se valer do excepcional raciocínio matemático, do qual eram detentores, para conceber sua arte/filosofia - um, quebrando conceitos óticos por meio da combinação de gráficos surreais; outro, produzindo sentidos pelo encadeamento lógico de palavras.)