Não dá pra dizer que O Teatro Mágico é meramente uma banda, suas apresentações que misturam dança, poesia, música, dramaturgia e números circenses deixam claro que o termo não é apropriado para definir esse grupo artístico de grande influência no cenário cultural independente. A trupe (como eles se autodenominam) é liderada pelo ator, cantor e compositor Fernando Anitelli que revela ter idealizado o projeto a partir de sua própria vivência nos saraus paulistanos. Com sua sonoridade peculiar, o Teatro Mágico faz, hoje, uma MPB rara e de muito bom gosto. Aliás, a sigla que nomeia o gênero musical também serve para intitular um outro projeto do qual são precursores: é o Música Para Baixar - um trabalho de disponibilização de música gratuita na internet.
Para nós, a relevância das composições do 2º Ato, o segundo álbum do grupo, é o que justifica figurá-lo por aqui. Por exemplo, a faixa "Pena" problematiza a questão da mercantilização da arte em nossos dias. Já a "Cidadão de Papelão" aborda o social, a dor de quem vive à margem de uma sociedade, hipocritamente cheia de candura. Em "Xanéu nº5" temos uma crítica à programação televisiva; e sua capacidade de anestesiar pessoas, que, sem saber, perdem suas vidas sentadas no sofá. "O Mérito e o Monstro" traz o corre-corre capitalista a que estamos condicionados; muitas vezes o desprazer de um trabalho massante e sem sentido, que solapa o viver. Uma poesia riquíssima é declamada em "Insetos Interiores", que parece retratar a maldade humana, ou sentimentos torpes, ou o pessimismo latentes em nosso ego. E isso é só uma amostra do cárater crítico e reflexivo do trabalho em questão.
"O tudo é uma coisa só" - sobre a individualidade, a separação das pessoas, das artes; "Eu não sei na verdade quem eu sou" - quem é você?,o que somos?; "A fé solúvel" - a consistência da crença no cotidiano; "Zaluzejo" - a língua: como se faz?; "Camarada d'água" - ser o que quer, ou ser o que querem?;... não poderiam tais canções também figurar como reflexivas, permitindo ao 'Entrada para raros' um espacinho na bela exposição feita no post?
ResponderExcluirÉ com certeza, outra obra musical bastante reflexiva, mas, como
ResponderExcluireu me propus a "resenhar" o Segundo Ato..rs.
(assim, teria de figurar em outro post... contudo, nem precisa, seu
próprio comment já fez a função..rs.)
Ps: eu segmentei, porque era preciso, mas o Entrada para Raros também o é.
Thanks.