O fio condutor da trama desta fenomenal obra cinematográfica é um tema de cunho metafísico. A personagem de Sean Penn, já com mais de 35 anos, mergulha numa convulsão de questionamentos sobre a morte de seu irmão, quando este ainda era uma criança - o que acaba por abrir um precedente óbvio: as dúvidas e inquietações sobre a própria vida. Dessas rememorações (que só nos damos conta depois de algum tempo de filme) emergem, no cotidiano deste homem, as perguntas existenciais. Então, na tentativa de respondê-las, segue-se a narrativa, quase que muda, do desenrolar fenomenológico, o princípio de tudo, desde o surgimento do universo, tal como nós minimamente o conhecemos, à origem da vida. Terminada essa parte, acompanhamos o núcleo familiar religioso que protagoniza a história, e todo o processo de criação e educação dos filhos, até o ápice da divisão de pensamentos provocados pelo mais súbito, enigmático e pungente de todos os eventos da vida humana: a morte.
Inspirar um olhar filosófico sobre as produções artísticas veiculadas na mídia em geral e, deste modo, provocar, nos leitores, reflexões sobre alguns temas abordados por elas.
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
domingo, 31 de julho de 2011
Everwood
Everwood é um seriado tocante e dramático, com situações que certamente apontam para o pensar filosoficamente. Como no capítulo em que a garota Kate opta por abortar sua gravidez indesejada, mas seu médico Andy recusa em realizar o procedimento, mesmo declarando não ter princípios morais que o influencie. Ele diz: "Com 62 dias de gestação, o feto já adquire perfeita forma humana, mas não é uma pessoa, nem pode viver fora do útero, contudo, tem a perfeita probabilidade de se tornar uma pessoa. Eu não sei quando a vida começa, mas sei que o aborto extingue a possibilidade dela começar...". A cena nos faz refletir sobre a dificuldade de se posicionar frente a discussão da legalidade e/ou humanidade da prática abortiva tão comum em nossos dias. Em outra cena, a personagem Delia conversa com seu pai sobre pudor. Este, fica encabulado por a filha, de apenas 9 anos, ter olhado uma revista do gênero pornográfico, e principalmente, por ela ter levado isso a público. Ele explica que "as pessoas gostam de olhar essas coisas mas tem vergonha de serem vistas fazendo isso", ao que a menina retruca (em outras palavras): se todos querem ver, todos gostam, e todos sabem que todos veem escondidos, por que as pessoas se repreendem quanto a isso? Deveriam poder fazê-lo abertamente ué!". Não sabendo exatamente a razão desse estranho comportamento social, o adulto argumenta que é por causa da cultura: "fomos condicionados a responder dessa forma a determinados estímulos...". E nós, aqui do outro lado, logo nos pomos a refletir: como se deu o início desse processo? Será que o pudor é algo natural do ser humano?
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Recurso Educativo: o vídeo A História das Coisas
Reflexão e análise filosófico-educativa do vídeo A História da Coisas, pelo Prof. Dr. Marcos Francisco Martins (Filosofia e História da Educação pela Unicamp), - atual professor adjunto nos programas de pós-graduação da Ufscar.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
A Ótica de Escher
clique na figura para ampliá-la |
Os trabalhos do holandês, Maurits Cornelis Escher, impressionam pela desconstrução da ordem visual do mundo - uma intenção deliberada de derrubar as noções mais primevas sobre a realidade. Diante de suas obras, somos instigados a duvidar do que vemos, e isso é, tal como a tarefa da Filosofia, uma busca pela profundidade das coisas. As obras do artista parecem questionar o mundo visível. (A propósito, Escher e Descartes tiveram algo em comum: ambos souberam se valer do excepcional raciocínio matemático, do qual eram detentores, para conceber sua arte/filosofia - um, quebrando conceitos óticos por meio da combinação de gráficos surreais; outro, produzindo sentidos pelo encadeamento lógico de palavras.)
quinta-feira, 24 de março de 2011
ÁGUA VIVA
Associar obra literária à filosofia é, como dizem, "chover no molhado", pois toda literatura encerra em si mesma uma filosofia, isto é, na acepção mais vulgar do termo, uma ideologia, concepção de mundo e intencionalidade, próprias daquele escritor. Entretanto, no caso específico de Clarice Lispector, não é somente nesse sentido que se estabelece essa relação. Em "Água Viva", a genialidade da autora capta alguns pressupostos filosóficos e discorre sobre eles numa atmosfera intimista, em que o leitor é convidado a se aventurar nos limites da linguagem - um mergulho profundo no imenso oceano dos conceitos - ali onde se definem todas as coisas, busca-se, sobretudo, um encontro com a Essência. Em contrapartida a essas águas, que, tantas vezes turvas, embaçam nossa visão 'clarificada', neste livro há um longo respiro, suficiente para deslocar-se do desvendamento da palavra ao conhecimento do real.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
O 2º ATO
Não dá pra dizer que O Teatro Mágico é meramente uma banda, suas apresentações que misturam dança, poesia, música, dramaturgia e números circenses deixam claro que o termo não é apropriado para definir esse grupo artístico de grande influência no cenário cultural independente. A trupe (como eles se autodenominam) é liderada pelo ator, cantor e compositor Fernando Anitelli que revela ter idealizado o projeto a partir de sua própria vivência nos saraus paulistanos. Com sua sonoridade peculiar, o Teatro Mágico faz, hoje, uma MPB rara e de muito bom gosto. Aliás, a sigla que nomeia o gênero musical também serve para intitular um outro projeto do qual são precursores: é o Música Para Baixar - um trabalho de disponibilização de música gratuita na internet.
Para nós, a relevância das composições do 2º Ato, o segundo álbum do grupo, é o que justifica figurá-lo por aqui. Por exemplo, a faixa "Pena" problematiza a questão da mercantilização da arte em nossos dias. Já a "Cidadão de Papelão" aborda o social, a dor de quem vive à margem de uma sociedade, hipocritamente cheia de candura. Em "Xanéu nº5" temos uma crítica à programação televisiva; e sua capacidade de anestesiar pessoas, que, sem saber, perdem suas vidas sentadas no sofá. "O Mérito e o Monstro" traz o corre-corre capitalista a que estamos condicionados; muitas vezes o desprazer de um trabalho massante e sem sentido, que solapa o viver. Uma poesia riquíssima é declamada em "Insetos Interiores", que parece retratar a maldade humana, ou sentimentos torpes, ou o pessimismo latentes em nosso ego. E isso é só uma amostra do cárater crítico e reflexivo do trabalho em questão.
domingo, 23 de janeiro de 2011
ALÉM DA IMAGINAÇÃO
Além da Imaginação - 2002 |
Idealizada por Rod Serling e apresentada pela UPN, com produção de Ira Steven Behr e Jim Rosenthal entre 2002 e 2003, a série televisiva norte-americana de apenas uma temporada (contendo 44 episódios de 30 minutos, em média) é a continuação da produção, de mesmo gênero (ficção científica) que foi ao ar nos anos 60, com uma repercução impressionante.
Um narrador introduz o tema e a questão polêmica em que um ou mais personagens se depararão durante aquele episódio: a trama procura por meio da imaginação, supor situações em que o homem teria de tomar uma decisão muito difícil. Essa abordagem faz com que os assuntos perpassem uma reflexão da nossa realidade, resignificando, assim, preconceitos e paradigmas. Cada capítulo é uma história à parte que se propõe a ir além da imaginação, mas, se para além da realidade já está a imaginação, então, "além" da imaginação seria um retorno à realidade?! Bem, é exatamente isso que a série faz, trazendo o imaginado para a concretude, numa tentativa de explicitar, não o sobrenatural, mas, as questões que cercam o nosso viver, individual e social: nossos valores, crenças, sentimentos; conflitos, angústias ou temores. E é aqui que o artifício utilizado pelos autores se presta a nós, pois, imaginar é sempre um processo criativo de representação, um esforço da mente em compreender ao mundo e a nós mesmos.
[Destaque para os Episódios:]
"One Night at Mercy"
"Shades of Guilt"
"Cradle of Darkness"
"Night Route"
"The Pool Guy"
sábado, 8 de janeiro de 2011
CRIAÇÃO
O longa-metragem, lançado em 2010, busca apresentar a síntese de uma das obras mais originais de toda a história do pensamento: "A Origem da Espécies" de Charles Darwin. Nele é narrada toda a trajetória dramática da pesquisa do naturalista britânico, que sabia que suas ideias gerariam muita polêmica, e que portanto, deveriam ser realizadas sigilosamente. Embora seu mais proeminente livro fosse um choque para a sociedade vigente à época, logo ganhou visibilidade na comunidade científica mundial, dada a sua genialidade.
A noção denominada hoje por darwinismo não fora constituída pelo cientista, mas por aqueles que interpretaram sua obra (ou viam nela um refúgio para suas próprias conjecturas). Darwin nunca pretendeu por em choque as concepções sobre a origem da vida, ele era apenas um homem importunado por questionamentos de sua mente, os quais o levara a investigar incansavelmente a realidade por ele observada (e é aqui que entra o pressuposto filosófico), ele ousou "xeretar" a vida com as ferramentas que possuía. Estudou medicina e teologia e por isso mesmo nunca supôs que a Seleção Natural fosse a fonte criadora, pois, para haver seleção natural deveria haver algo a ser selecionado. Então, não se tratava de colocar em oposição deus e a teoria da evolução, mas, de entender como poderia existir tamanha variedade de espécies vivas, tão complexas e tão distintas, tão semelhantes e tão únicas. (Na verdade não há sequer um ser repetido na natureza. Repetir representa limitação, mas, a Fonte Criadora é inesgotável.) Esse "maravilhamento" é o que inquietava Darwin.
domingo, 2 de janeiro de 2011
REFLITA-SE
O primeiro CD da banda carioca R.SIGMA, que desponta no cenário da música independente, traz um repertório que pretende mobilizar pensamentos, ou como diz um dos seus integrantes: "movimentar assuntos". Sem cair em estereótipos no que se refere a gêneros musicais, e quebrando a banalidade das letras que ouvimos por aí, o álbum cumpre com excelência a proposta ao poetizar e problematizar temas como: a crença, a liberdade, o ego, a morte, a artificialidade das coisas, a verdade. A obra é um convite à reflexão sobre quem somos, mas também, sobre quem queremos ser, tal qual a enigmática inscrição grega milenar "Conhece a Ti Mesmo". A valorização da Arte em sua forma mais genuína é claramente evidenciada no interdiscurso das composições, na estética das interpretações, nas melodias (e também nos textos poético-filosóficos postados no blog da banda, a qual, disponibiliza todas as músicas, gratuitamente, para download, em seu site oficial: http://rsigma.com.br).
A entrevista para o site Roquemrou revela um pouco das intenções e dos ideais de R.SIGMA: http://roquemrou.wordpress.com/2010/08/30/roquemrou-entrevista-r-sigma/
Links correlatos
Blog Oficial
Assinar:
Postagens (Atom)